Crônico Repórter

A garotinha tricolor

A garotinha tricolor
Escrito por Bruno Zanette

Crianças podem ser desconfiadas e tímidas num primeiro momento, mas possuem grandes facilidades em fazer novas amizades

Em meio a um mar de gente, entre eles curiosos, familiares, amigos e torcedores que acompanhavam as disputas das finais do Campeonato Interfirmas de Bocha, uma garotinha de mais ou menos uns quatro ou cinco anos anos chamou minha atenção.

Eu estava lá fotografando o evento e desejando ir embora o quanto antes, pois um início de gripe estava começando a tomar conta do meu corpo e sabia que poderia piorar, caso não estivesse descansando logo.

Foi então que eu a vi, aquela criança cheia de vida como outra qualquer, correndo de um lado para o outro. Até então, estava solitária em meio a tantos adultos, não havia ainda outras crianças com quem brincar. Mas não foi só isso que desviou meu olhar da cancha de bocha.

Usando uma jaqueta jeans, ela vestia por baixo algo que percebi na hora ser uma camiseta de time de futebol. Diferente da maioria das crianças dos dias de hoje, da geração PlayStation 4, que idolatram jogadores  e clubes europeus, a pequena garota trajava as três cores mais vitoriosas dos últimos anos. Pelo menos pra mim, claro. Não era Real Madrid, Barcelona, Chelsea, PSG ou qualquer outro time da Europa. Ela vestia as cores do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, o Imortal Tricolor.

Alguns minutos depois eu estava em outro setor da cancha, fotografando mais perto de onde aconteciam as partidas e ela se aproximou. Segurava em uma das mãos um espeto de carne e parecia estar com muito apetite. Olhar curioso à maquina fotográfica e aos meus movimentos para registrar as jogadas. Não me contive e  puxei conversa com ela. Adoro conversar com crianças, sempre me surpreendem.

“Oi! Então você torce pro Grêmio? É bom esse time, né?”, perguntei com uma daquelas perguntas afirmativas. Com um sorriso tímido, parecendo concordar, ela continuava comendo seu espetinho de carne.

Pedi se ela gostaria de tirar uma foto para experimentar. Desconfiada, recusou. Então perguntei seu nome enquanto a coitadinha estava com a boca cheia, num descuido meu de não ter esperado ela comer primeiro o pedaço que mastigava, para depois perguntar. Mas ela não se importou, engoliu o pedacinho de carne e respondeu: Antonella. “Que nome bonito”, devolvi.

Vi na Antonella muito da minha sobrinha daqui a uns anos. Não acredito que ela será gremista, pois o pai torce pelo Flamengo e acho que tio nenhum deveria interferir na relação de times entre pais e filhos. Mas, eu não via a hora de observar minha sobrinha correndo por aí, brincando e sendo cada vez mais independente, decidida sobre onde quer chegar. Hoje, com três anos de idade, isso já é praticamente uma realidade a ela. Com exceção de ser independente, lógico.

Precisei me deslocar a outro setor, então me despedi de Antonella e logo vi que ela havia encontrado e feito novas amigas para brincar.

Crianças constroem amizades rapidamente, enquanto os adultos gostam de  brigar por qualquer motivo, principalmente discutir em redes sociais. Uma tremenda inversão de valores. Deveríamos aprender mais com os pequenos.

Sobre o autor

Bruno Zanette

Jornalista nascido e formado em Foz do Iguaçu-PR. Adora falar e contar histórias, por isso o rádio foi veículo onde mais trabalhou. Mas é na escrita onde costuma se expressar melhor. Gosta de um bom rock, livros, filmes e esportes (assiste bem mais do que pratica). Torce e sofre pelo Grêmio, não exatamente nessa ordem. Apesar de bem-humorado, gosta de piadas de humor bem duvidoso, e acha que a melhor maneira de rir é de si mesmo. Por isso, acredita que a própria vida poderá servir de inspiração para boas crônicas e contos. E tudo o mais que vier na telha para escrever.

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