Correspondência Sem meias palavras

Carta à Vossa Excrescência

Escrito por Thigu Soares

Achou que não ia ter carta de repúdio aqui também? Achou errado (pena que estamos todos sendo feitos de otários).

Excrementíssimo Senhor “Presidente”,

Completo hoje, dia 13, o segundo mês em regime de distanciamento social, cumprindo com o meu dever básico de compreender que o meu direito vai até o início do direito do próximo. Sei que você não é afeito a protocolos, assim como também não cultiva os bons hábitos de respeito ao próximo, mas precisei vir aqui falar. 

Ressalto desde já que jamais apertei 13 em uma urna – o que não fará diferença para o senhor ou seu rebanho – e que abri mão do meu direito e dever de voto há alguns pleitos. Talvez seja um erro meu, mas tenho certa dificuldade em fazer escolhas quando considero as opções tão indigestas, com candidatos de ideários tão indigentes. Decidi, com minha ausência eleitoral, respeitar aos anseios da maioria, mas lembrando que de modo algum isso me tira o direito da crítica, que o senhor, como bem sabemos, não costuma receber bem.

Confesso que não chega a me surpreender, é uma questão cognitiva. Não poderíamos esperar algo muito diferente de quem sempre foi medíocre em tudo que fez e pouco producente em quase tudo que se propôs. Nesse ponto, sua honestidade é inquestionável! Creio que nem o mais apaixonado dos seus eleitores fosse capaz de ver grandes qualidades. Melhor dizendo, aqueles que as viam têm conceitos um pouco dissonantes sobre qualidades. Truculência, falta de educação, ausência de empatia, nenhum traquejo social, inteligência limítrofe e uma série de outros predicados conseguiam ser vistos como qualidade sob a ótica bovina.

Superação, Jair, esse é o problema! Você consegue se superar em tudo de atrapalhado que faz ou deixa de fazer. Há alguns anos, em um blog pessoal meu, fiz um comparativo entre você e um outro parlamentar conhecido, que ganhou o BBB, você conhece. Lá, eu dizia que as posições mais radicais de vocês dois os tornavam gêmeos da ignorância do não compreender o mundo fora de sua própria bolha. Hoje, alguns comparativos, com a falta de autocrítica do PT, caberiam perfeitamente ao senhor, já que no final de cada discussão, você, sua prole e sua claque, só sabem falar do PT.

Sinto certa falta de uma estrutura melhor nos debates, ando cansado. Não é só a Pandemia que me tira do eixo, a preocupação com o futuro, as projeções para o país. Afinal, tenho certeza absoluta de que consigo compreender todas essas questões com larga vantagem para o senhor. Talvez eu já tenha desistido de ter um presidente e me sentir representado, meu pequeno conforto seria, ao menos por hoje, não me sentir humilhado por mais alguma trapalhada, palhaçada ou baixaria vinda de você ou seu time. 

Capitalizar nessa polarização era o trabalho sujo que alguém iria fazer, eu admito. Seria fácil encontrar alguém pra seguir bradando impropérios, fugindo de debates e alimentando narrativas completamente sem sentido via redes sociais. O brasileiro médio que colocou o partido que o senhor tanto odeia é o mesmo que consegue também perceber sua indiferença aos nossos mortos e sua total falta de capacidade de conduzir um país. Isso deveria nortear um pouco mais suas atitudes e vaidades, mas você tá pensando em 2022 enquanto esquece de tudo isso. Você parece sentir necessidade de aparecer, mesmo que em meio a uma pilha de mortos.

Ignorar a ciência deveria ser um crime, mas como só restou o núcleo duro daqueles que não são capazes de criticar seus absurdos, é preciso seguir capitalizando, não é mesmo? Por vezes herói, quase sempre vítima e sem qualquer coerência, o senhor vai tocando o Brasil como tocou sua vida inteira, não é mesmo? Pouco compromisso, muito barulho e vagabundagem. Eu nunca disse que foi golpe e digo também para o senhor: que fique até o fim. Nossa democracia precisa aprender a sangrar com nossas escolhas ruins. Quem sabe assim elas apareçam com menos frequência. Quem dera toda nossa dificuldade fosse só o vírus. O surto da doença deve passar, o surtado fica até 2022. Que tenhamos capacidade para resistir a tanta vergonha e incompetência.

Quanto a vocês, fiquem em casa. Ninguém é livre para arriscar a vida dos outros. 

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.

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