Cantinho da Leitura Canto dos contos

Uns se vão, outros chegam

Escrito por Bruno Zanette

O ciclo da vida sempre se renova, e um exemplo disso são os animais de estimação. Quando uns acabam partindo, outros chegam. Não para substituir o que se foi, mas para preencher um certo vazio deixado.

Sandro era uma criança de classe média e, como tantas outras, tinha seus animais de estimação, os quais ele adorava. Eram um casal de irmãos Pinschers – Maylon e Meg – que chegou alguns anos depois da primeira integrante de estimação, uma cadela de grande porte, da raça fila brasileiro, de nome Yaga.

Os três animais se davam bem, apesar da diferença de tamanhos entre eles. Não era raro, em dias um pouco mais frios, encontrar o Maylon ou a Meg, ou os dois, deitados em cima das costas da Yaga, aproveitando o sol e ajudando a aquecer uns aos outros.

Tudo ia bem, até o dia que Meg sumiu, desapareceu. Quem era acostumado a dar umas escapadas de vez em quando era o Maylon. A cerca de arame colocada no portão de ferro com grades era incapaz de mantê-lo no terreno quando ele resolvia sair. Chegava a escalar o portão, mas sempre voltava. O perigo eram os carros na rua, mas ele aprendeu a se virar e a se cuidar. Já Meg não era acostumada a isso. Por isso, naquele sábado quando Sandro, agora um garoto formado, sentiu falta dela ao voltar do trabalho, logo imaginou que ela pudesse ter sido roubada.

Yaga já não estava mais presente, a idade e alguns tumores a haviam levado há algum tempo. Portanto, se confirmasse o sumiço de Meg, só restaria o Maylon, dos três cachorros que Sandro tinha. Foram alguns dias de procura, às vezes caminhando por ruas próximas de sua casa, sempre na companhia de Maylon farejando o chão, buscando informações com vizinhos sobre o paradeiro de Meg. Nada feito, ela nunca mais foi encontrada.

A mãe de Sandro, religiosa que era, fez algumas orações para que a cadelinha presente na família há tantos anos pudesse retornar. De fato, uma cachorra apareceu, mas não era quem esperavam. Em um belo dia lavando as calçadas em frente de casa, surgiu uma cadela de médio porte, cor semelhante ao bege, lembrando um favo de mel e que estava com muita sede. Tomou alguns goles de água da mangueira e, com o portão entreaberto, não pensou duas vezes, acabou entrando no terreno e de lá não mais saiu. Adotou a família como a sua. O nome dela passou a ser Mel.

A família de Sandro desconfiou que Mel pudesse ser de algum policial, bombeiro ou algo do tipo, pois sempre que ouvia a sirene de ambulâncias ou viaturas na rua, uivava de maneira intensa. Mel era muito carinhosa com seus novos donos, uma protetora fiel.

Mas, a felicidade não duraria por muito tempo. O pai de Sandro saiu para ir à padaria comprar pão em uma noite. Maylon não podia ouvir o barulho do portão se abrindo que corria para fora. E foi todo alegre e saltitante acompanhando o patriarca da casa na curta caminhada. Cachorro educado, não entrava nos estabelecimentos comerciais, aguardando seu dono do lado de fora. Porém, algo o assustou, fazendo com que desviasse para o asfalto. Nesse rápido momento de descuido, Maylon foi atropelado, morte instantânea. O motorista nem parou, raramente eles param. O pai de Sandro chegou pálido em casa, assustado e, em estado de choque, apenas disse de maneira seca: “O Maylon morreu”. Sandro não conseguia acreditar nisso, não fazia nem dez minutos estava brincando com ele.

Em um curto espaço de tempo, o rapaz perdera dois queridos companheiros de quatro patas. A Yaga já fazia mais tempo e, apesar da saudade, já estava um pouco mais conformado. Agora, só restava a Mel, mas ela não veio sozinha. Junto com ela, as semanas mostraram, havia em seu ventre outros dez cachorrinhos. Um mais bonitinho que o outro. Só que a família não poderia ficar com tantos assim, ao passo que logo foram sendo doados.

Enquanto Mel ainda amamentava seus filhotes, uma tia de Sandro o presenteou com uma nova Pinscher, de pele marrom-claro. E dando sequência à dinastia dos Pinschers na casa, foi chamada também de Meg. Para ser mais preciso, Meg II, como nas monarquias. E apesar de já ter sido desmamada, Meg aproveitou o embalo nas primeiras semanas e dividia espaço com os demais filhotes por um pouco de leite da Mel.

Assim é a vida, sempre se renovando a cada momento. Uns se vão, mas sempre outros chegam, para dar continuidade nesse ciclo que não sabemos quando vai acabar. Enquanto isso, vamos vivendo da maneira que podemos e, de preferência, na presença dos animais. Os seres mais puros deste planeta – e melhores que muitas pessoas.

Sobre o autor

Bruno Zanette

Jornalista nascido e formado em Foz do Iguaçu-PR. Adora falar e contar histórias, por isso o rádio foi veículo onde mais trabalhou. Mas é na escrita onde costuma se expressar melhor. Gosta de um bom rock, livros, filmes e esportes (assiste bem mais do que pratica). Torce e sofre pelo Grêmio, não exatamente nessa ordem. Apesar de bem-humorado, gosta de piadas de humor bem duvidoso, e acha que a melhor maneira de rir é de si mesmo. Por isso, acredita que a própria vida poderá servir de inspiração para boas crônicas e contos. E tudo o mais que vier na telha para escrever.

Adicionar comentário

Comente! É grátis!