Amor é prosa

Emocione-se

Escrito por Mayara Godoy

Quem foi que começou com essa história de que se emocionar é algo ruim?

“Você é muito emocionado(a)”.

Se você frequenta as redes sociais, certamente já leu esta frase por aí. Normalmente, ela é dirigida às pessoas que, por exemplo, mal conhecem alguém e já se apaixonam. Ou que se entregam muito rapidamente a um sentimento.

Refletindo sobre isso enquanto fazia minha sessão de terapia (do latim: ter a pia cheia de louça), concluí que eu também sou uma pessoa emocionada.

Sim, eu sou uma pessoa extremamente emocionada. Não apenas por, muitas vezes (até mais do que eu gostaria), me apaixonar por alguém logo de cara. E depois quebrar a cara. E sofrer horrores. E tudo isso num intervalo de menos de um álbum da minha banda favorita.

Mas, também, em todos os outros significados que a semântica permite. Eu me emociono ouvindo uma música, vendo um filme, lendo um livro, olhando fotos antigas de algo (ou de alguém) que deixou saudade.

Eu me abalo com uma notícia que leio no jornal, a ponto de sentir os batimentos cardíacos acelerarem e as veias do pescoço saltarem. Eu me inflamo numa discussão aleatória sobre qualquer tema que me pareça importante.

Eu faço textão de declaração de amor para as pessoas. E também de indignação por qualquer causa que me mova. Faço mesmo, seguirei fazendo. Este site é feito com emoção.

Eu me destempero diante de uma injustiça, de uma violência, de uma incivilidade. Eu fico absolutamente perturbada com frases que saem distorcidas, com diálogos truncados, com conversas que terminam em mal entendidos, com ausências que me castigam.

Eu fico absurdamente frustrada com gente que não se expressa, que parece não sentir, que vive numa fleuma inabalável.

Eu ajo – e reajo – a quase tudo que vejo e ouço; em consequência, eu sinto. Sinto tantas coisas ao mesmo tempo: dores, alegrias, raiva, indignação, amor, compaixão, empatia, rancor, frustração, descrença, solidão, esperança.

Eu sinto, sempre senti, e o sentir faz parte de mim. É da minha essência. Eu sou, sim, uma pessoa emocionada, à flor da pele, passional. Esses sentimentos me movem.

Então, sinceramente, não não vejo nada de errado em ser uma pessoa emocionada. Digo, por minha própria vivência e experiência, que prefiro ser assim, escancarada e sentimental – brega, até.

Acho pavoroso viver numa sociedade que prega a frieza e a indiferença como sinônimos de “força”. Que faz ode ao desapego, que não valoriza as delícias de sentir-se humano, vulnerável e entregue às emoções. Que não se dá ao direito de mergulhar nos seus mais profundos e sinceros sentimentos, a despeito de tudo o que podem falar e pensar os “filósofos” de redes sociais.

Eu, assim como Graciliano Ramos, “Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões.”

É isso. Emocione-se.

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.

Comente! É grátis!