Sem meias palavras

Não se contente com migalhas

Escrito por Bruno Zanette

Quem gosta da companhia de uma pessoa, não se encontra por obrigação, mas porque quer estar na companhia desse alguém.

Não sei se já tiveram essa sensação, mas comigo tem acontecido com um pouco mais de frequência nessa pandemia. Há pessoas que parecem sentir algum tipo de obrigação de se encontrar com os outros. Quando deveria ser algo natural, marcar um encontro, acaba virando um almoço qualquer uma vez por mês, para depois não ouvir reclamação de que não se encontram e não colocam as conversas em dia pessoalmente.

Não seria o momento, com o número de casos de covid-19 aumentando, mesmo após sete meses de pandemia. Porém, como governadores e prefeitos afrouxaram as regras de isolamento social, e muitos estabelecimentos reabriram, acabou sendo natural, embora não recomendado, que as pessoas saiam para almoçar ou jantar fora, após tanto tempo presas em casa. Seguro mesmo, só quando surgir essa vacina que nosso Excrementíssimo Presidente tem dificultado chegar ao Brasil.

O fato é que, independentemente do momento ou local, ninguém deveria aceitar migalhas ou o que sobra de tempo da outra pessoa para se encontrar com você, se assim de fato a outra pessoa deseja. Entendo que a rotina da semana faça com que os únicos dias disponíveis sejam sábados e domingos. Ótimo, que tal juntar descanso com lazer? O texto aqui é escrito em meio a uma pandemia, mas é válido para períodos fora dela.

Se a pessoa tem 90 minutos de intervalo a partir do meio-dia, esse é o tempo que ela dedicará a você para um convite de almoço numa sexta-feira, por exemplo. Acontece que você gosta tanto da companhia de quem fez o convite, que considera 90 minutos muito pouco. Até posso ouvir um apresentador qualquer, desses programas de auditório gritando “VALENDOOO”, numa disputa por conseguir buscar a pessoa no trabalho, ir para o shopping mais próximo, pedir a refeição na praça de alimentação, almoçar e conversar em uma hora e meia todos os assuntos que lembrarem no período no qual não se viram.

Seria ótimo, não fosse o fato de que com outros amigos você descobre que há convites que saem do universo “intervalo limitado de almoço na semana”. A chamada para almoçar junto nunca acontece num sábado ou domingo, ou para comerem algo à noite, ir a algum atrativo turístico. É sempre o mesmo roteiro, como se não quisesse manter contato além desses 90 minutos mensais disponíveis. Quem gosta da companhia e presença de alguém, busca maneiras para esticar esse período, ou programa em dias nos quais o relógio seja apenas um acessório.

E dessa forma, o que era admiração vai virando frustração. Ninguém é obrigado a nada nessa vida. Se não quer se encontrar nos finais de semana, ou não tem disponibilidade, tudo bem, a gente compreende. Mas não peça a mesma vontade de antes, pois como diria aquele meme da internet, “a grande ficha está caindo”.

Sobre o autor

Bruno Zanette

Jornalista nascido e formado em Foz do Iguaçu-PR. Adora falar e contar histórias, por isso o rádio foi veículo onde mais trabalhou. Mas é na escrita onde costuma se expressar melhor. Gosta de um bom rock, livros, filmes e esportes (assiste bem mais do que pratica). Torce e sofre pelo Grêmio, não exatamente nessa ordem. Apesar de bem-humorado, gosta de piadas de humor bem duvidoso, e acha que a melhor maneira de rir é de si mesmo. Por isso, acredita que a própria vida poderá servir de inspiração para boas crônicas e contos. E tudo o mais que vier na telha para escrever.

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