Rir pra não chorar

De mudança. De novo.

Escrito por Rose Carreiro

O dilema de quem quer alugar um novo lugar para chamar de casa, mas só encontra banheiros que envelheceram muito mal.

Logo após o fim do meu último relacionamento, enquanto encaixotava meus pertences – que eram muitas tralhas, mesmo eu tendo deixado metade pra trás no desquite – me lembro de dizer às minhas amigas que o motivo pelo qual as pessoas não se separavam não era comodismo, dependência emocional ou insegurança. As pessoas seguiam em seus relacionamentos falidos porque mudança dá muito trabalho. 

Agora, depois de quase um ano e duas mudanças, e vivendo provisoriamente no Rio antes de ir para São Paulo, meu sofrimento é outro. Com quase tudo que tenho já embalado e devidamente estocado na casa da Carol, a quem chamarei carinhosamente neste texto de Saci, o meu drama é o da busca pelo apartamento ideal.

Se você já fez essa pesquisa socioeconômica do inquilino que não tem um rim para investir em moradia, pode fechar os olhos, colocar um copo com água em cima da mesa, e rezar comigo: puta-que-pariu!, como é difícil encontrar um apartamento que caiba no bolso, nas expectativas, ou – pior – que não tenha um banheiro com louça marrom. 

Não sei em que momento a sociedade achou aceitável (e, talvez, de bom gosto) ter pias, privadas, pra não falar dos bidês, em tons de caramelo, bege, café recém-moído. Há, ainda, os extravagantes tons de verde, azul e até rosé. E esse tipo de louça dura, viu?! Porque estamos em 2021, mas é só acessar o Quinto Andar ou o Viva Real e buscar um apartamento na Consolação pra se deparar com belíssimos banheiros horrorosos.

Outro drama são as cozinhas. Pias baixas demais. Azulejos com florezinhas estampadas. Mais bege, marrom, encardido ou qualquer tom pastel que resiste às décadas e ao gosto duvidoso dos locadores. Você não imagina a minha decepção diária ao correr as fotos em um site, com uma sala de piso laminado, sacadinha, quarto com armário embutido, pra chegar à parte da cozinha e do banheiro e logo ver meu novo lugar de sonhos virando um cenário de terror.

E, se eu encontro um lugar razoável, com uma cozinha minimamente planejada, uma privada branca e um box com blindex, vem outro drama: se fica dentro do orçamento, não cabe na qualidade de vida – leia-se fica longe de transporte público ou das áreas ditas mais tranquilas. Se é bem localizado, foge feito o diabo da cruz das minhas condições financeiras. 

O que me resta é seguir sonhando com os apartamentos belíssimos que figuram nos vídeos de arquitetura no YouTube, me imaginando numa daquelas cozinhas de Pinterest, curtindo um fim de dia à luz de velas e com uma taça de vinho num banheira de sais, enquanto durmo no cativeiro que habito aqui no Flamengo.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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