Murphy Days

Murphy, eu voltei (ou sendo destratada pela operadora de caixa do Muffato)

Escrito por Rose Carreiro

Murphy vai, mas também volta. E a gente também.

Querido Diário de Murphy,

Faz anos que não dou pinta por aqui. Lamento por isso, já que minha ausência não significa que fui abandonada pelo meu Sinteco Gelado. Murphy me visita regularmente, nem que seja pra dar um oi tímido por trás da porta que bate nos meus roliços bracinhos. Não voltei mais aqui porque tenho mais o que fazer ando trabalhando muito, e vivo cheia de coisas na cabeça. Quando tenho um tempo livre, quero ler um romance mentiroso,  esquecer que tenho gastrite, praticar meus dotes culinários e, é claro, comer – é um ritual terapêutico, que justifica a adiposidade dos meus membros superiores que agarram em maçanetas pela casa afora.
 
Mas hoje eu vim. Vim porque faz dias que passei por uma situação que só pode ser resumida como legitimamente Murphyana. E um fato mais recente ainda só prova que eu tenho má sorte. Senta que lá vem história.
 
Sexta-Feira de Carnaval – dia de assinar o atestado de tonta e ir ao mercado quando toda a população brasileira se abastece de comida como se estivesse prevendo uma guerra ou um desastre natural. Mesmo enfrentando fila no açougue, disputando tomates amassados, e sendo atropelada por universitários com seus carrinhos cheios de carvão, pão de alho e linguiça toscana, fechei minha lista de suprimentos e cheguei ao caixa. 
 
Fiz um estoque pra não precisar sair de casa nos últimos quinze cinco dias, e após 23 itens, surpresa: meu humilde e precioso pacotinho de bacon não tinha um código de barras legível. Era o único bacon que eu havia encontrado na seção dos defumados, e cheguei a me sentir sortuda por ter conseguido apanhá-lo (pausa para que Murphy jogue a cabeça pra trás e solte uma gargalhada). A operadora do caixa, uma senhora de meia idade, com cara de quem queria estar se refestelando na Praia de Mauá, me disse que “não ia passar, não”, e eu fiz aquela cara de quem deixou o bolo de chocolate cair no chão. Ia ter de deixar o bacon. Mas eu não podia – meu risoto não seria o mesmo sem ele; minha vida e minha gordura localizada também não seriam nada sem aquele robusto toucinho defumado. 
 
A “dona” me deu como única opção ir ao setor de frios e pedir pra algum funcionário pesar meu porquinho. Quase saí correndo até lá, mas não o fiz porque os universitários com carrinho de pão de alho não me deixavam passar. Cheguei ao setor indicado e, Murphy strikes again, não tinha ninguém lá. Tentei a rotisseria, que fica ao lado, e tive de encarar uns cinco minutos de fila até ter o maldito código de barras legível. 
 
Voltei esbaforida, pedindo mil desculpas e falando com voz de Alvin e os Esquilos que não tinha ninguém nos frios e blablabla. A funcionária do caixa nem olhou pra mim. O cliente atrás na fila batucava seu engradado de cerveja com impaciência. Paguei as compras, agradeci e ela, com cara de quem estava desejando que eu morresse de infecção intestinal por causa daquele bacon, cagou pra mim não respondeu. 
 
Viramos as costas e meu bem começou a contar o diálogo inusitado, por assim dizer, que se seguiu à minha ausência:  
 
_Você não tem o telefone da sua esposa, pra ligar pra ela? Porque se demorar… – disse a velhinha do caixa, com voz de tia que prevê desgraça.
 
Meu bem ficou puto da cara por ela ter “mandado eu ir pesar o bacon” e respondeu: _Se demorar o quê? Não é culpa dela que o código tava apagado, você devia ter mandado um funcionário ir até lá pra pesar o produto.
 
Com funcionários e clientes olhando pros dois, a caixa resmunga: _ Mas é que a gente tamo sem gente (sic)!
 
_ Então vamos esperar. – E foi o que todos fizeram, se odiando em silêncio, até minha descabelada aparição. 
 
Por ter uma embalagem rasurada, por fazer a vez de um funcionário do mercado e perder também o meu tempo de descanso esperando que alguém colocasse preço num produto que eu queria PAGAR, a educação desta senhora deixou de existir e ela sequer rosnou um “de nada” pra mim. 
 
Ontem, em outro Muffato daqui, minha sogra passou pelo mesmo problema do código de barras quando tentava comprar um balde. Mas além de um funcionário ir atrás do preço, o supervisor do mercado deu o balde pra ela. Não cobrou nada, pra compensar o inconveniente. Eu tive que pagar oito reais e tenho certeza de que corria o risco de ter uma disenteria por mau olhado.
 
É ou não é sacanagem com a minha cara, Murphy?!

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.