Cerveja, Mulher e Futebol Desacato

O extremismo no futebol

Escrito por Patrícia Librenz

Uma mulher foi agredida, durante um Gre-Nal, neste fim de semana. Seu erro: estar na arquibancada errada. Hoje, o Crônicas mete o dedo nessa ferida.

Eu, que nem gosto de futebol, esta semana decidi tocar nesse assunto. Mas a pauta não será o Campeonato Brasileiro em si, e sim a violência nos estádios. A polêmica do momento foi protagonizada entre torcedores de dois times gaúchos e o fato aconteceu em Porto Alegre, no estádio do Beira-Rio. 

Era dia de Gre-Nal e uma mãe só queria levar seu filho para ver o jogo. Afinal, era fim de semana. Mãe e filho estavam passeando e curtindo o tempo juntos. Por motivos que ainda não se conhece e que também não importam agora, essa mulher, torcedora do Grêmio, assistiu ao jogo na ala reservada à torcida colorada.

O Inter abriu o placar do clássico gaúcho, mas o Tricolor empatou logo em seguida. A torcedora e seu filho comemoraram na arquibancada e ela sacudiu a camisa do Grêmio como se fosse uma bandeira. Um erro considerado fatal pelos demais torcedores, mas vamos pensar friamente: será que isso é tão grave assim a ponto de justificar uma agressão?

Não demorou muito para que torcedores colorados a escurraçassem dali. O que chama a atenção na cena é a falta de empatia, pois a agressão à mãe partiu de outra mulher, que não demorou muito para receber reforços de outros torcedores igualmente raivosos e violentos. Simplesmente injustificável – afinal, era mesmo muito necessário usar força bruta, pois uma mulher com a camiseta de um time adversário e uma criança representam uma ameaça terrível em um estádio, né? [contém muita ironia].

Quero chamar, aqui, a atenção para o fato de o futebol ser um esporte que existe para proporcionar momentos de alegria e descontração. Essa mãe levou seu filho para passear, para se divertirem juntos, e essa criança presenciou uma barbárie. O menino ainda tentou impedir que a mãe fosse agredida, mas o “guri” só conseguiu chorar diante de sua fragilidade e impotência perante a truculência humana.

A ironia disso tudo? A agressora colorada, que além da agressão tomou a camisa tricolor da adversária para si, usava um cachecol escrito: “ANTIFASCISTA”. À mãe, não restava fazer nada, a não ser se retirar, sob o risco de ser linchada.

Eu poderia simplesmente encerrar esta reflexão concordando com Jorge Luis Borges, o escritor argentino, que disse que “o futebol é popular porque a estupidez é popular”. Mas eu não concordo totalmente com Borges. A essência do futebol é boa; a essência do futebol não é transformar rivalidade em intolerância; a essência do futebol é proporcionar prazer, lazer, emoção. E o que é esporte deve ser levado na esportiva. O ser humano é que tem essa maldita mania de estragar tudo que mete a mão.

O Inter empatou em campo, mas perdeu de goleada com esse exemplo de incivilidade nas arquibancadas, cujo ato ainda foi endossado por alguns torcedores fanáticos, alegando que a torcedora tricolor estava no lugar inadequado (admitindo que são uma torcida violenta e que o estádio não é um lugar seguro e de gente civilizada). Vivemos tempos sombrios. A humanidade parece estar regredindo às cavernas. E, infelizmente, não é apenas no futebol.

Créditos da foto: Jornal O Globo.

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.