Que mais?

O que é inteligência? Os animais explicam.

Escrito por Patrícia Librenz

Quem é mais inteligente? O gato ou o cachorro? Bem, tecnicamente falando, eles apenas têm inteligências diferentes.

Ao longo desta minha longa carreira de mãe de bicho, já fui questionada inúmeras vezes se gosto mais de cães ou gatos; ou, ainda, qual espécie eu considero mais inteligente. Essa última pergunta me levou a algumas reflexões sobre a noção humana de inteligência.

Os donos de cachorros, invariavelmente, sentem-se vitoriosos nesse “torneio imaginário”, afinal, não faltam programas de TV reforçando o quanto cães são seres geniais. Existe, inclusive, um livro sobre inteligência canina, publicado por um norte-americano, que elaborou um ranking de aproximadamente 100 raças que foram testadas. O que esse pesquisador observou foi que algumas raças parecem ser geneticamente mais dispostas a obedecer comandos do que outras.

Não é por acaso que, entre os top 10, só estão os ditos “cães de trabalho” – como o Pastor Alemão, o Labrador, o Doberman e, para a surpresa de muitos, o Poodle! Sim, o Poodle (gigante) é vice-campeão (atrás apenas do Border Colie), e era, originalmente, cão de trabalho na França – por ser um exímio nadador, ele buscava os patos abatidos nos lagos durante as caças! 

Eu tive uma cachorrinha sensacional da raça Lhasa Apso, que atuou em um projeto de cinoterapia. O Lhasa Apso, contudo, está longe de ser considerado um cachorro inteligente, está aproximadamente na posição 60 e poucos do ranking – ou seja, não tem muita disposição em obedecer -, o que ficou muito claro na minha cadelinha Envy durante os treinos.

E, mesmo ela arrancando risos de todos durante o adestramento (por sua falta de habilidade em atender rapidamente as ordens dos adestradores e nenhum interesse nos petiscos), mesmo assim Envy foi considerada apta para o trabalho de terapeuta após somente quatro encontros para treinamento, deixando alguns cães da lista dos top 10 para trás, pois ela tinha muito interesse em pessoas! E, para aquela função, isso era o mais importante. 

Até o momento, eu não tenho conhecimento de nenhum estudo sobre inteligência felina (se alguém souber, me conte), tampouco conheço algum gato que trabalhe como farejador na polícia ou como guia de cegos, mas isso não quer dizer que os gatos são menos inteligentes do que os cachorros. Apenas significa que eles não têm interesse em obedecer às ordens das pessoas.

Em outras palavras: enquanto os cachorros sentem satisfação em agradar seus donos e esperam uma recompensa por sua obediência, os gatos não estão preocupados em nos deixar felizes, assim, só fazem o que realmente querem. Também vale lembrar que, embora a sociabilidade dos cães possa ser considerada uma vantagem evolutiva (os lobos mais dóceis conseguiam comida se aproximando dos humanos, enquanto que os mais arredios passavam fome), eles vêm sendo domesticados há muito mais tempo que os gatos. 

Atualmente, tenho dois gatos com comportamentos muito distintos. O Aleph aprende mais rápido e, por ser muito curioso, descobre as coisas por conta; o Gatão, por sua vez, observa o irmão várias vezes passando pela nova portinha, mas não cruza por ela. Para alguns, o medo dele pode soar como burrice; para mim, é só desinteresse. Nem sempre é correto afirmar que o mais curioso é o mais inteligente. Afinal, como já diz o ditado, “a curiosidade matou o gato”. 

Então eu pergunto: para você, o que é inteligência? Obedecer a qualquer ordem sem questionar (para receber uma recompensa), ou ser livre para fazer aquilo que bem entender, sem se preocupar em agradar os outros? Não existe resposta certa para essa pergunta – assim como não existe resposta certa para qual dos dois é melhor que o outro. O fato é que, na minha opinião, bicho é muito melhor do que gente. E não precisa ser um humano muito inteligente para se chegar a essa conclusão.

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.