Sem meias palavras

Tem que ser bom pros dois

Escrito por Rose Carreiro

Sim, é sobre sexo. Sim, é clichê, mas precisamos sempre lembrar que o sexo deve ser bom pra todos os envolvidos.

É engraçado – e clichê – como algumas coisas que sempre deveriam ter feito sentido para as mulheres, quando proclamadas por alguém com veemência, são tomadas como se fossem um novo raio de luz em suas vidas. A afirmação que me pegou pelos ouvidos dessa vez foi “tem que ser bom pros dois”. Sim, é disso mesmo que eu estou falando, de sexo. Esta que vos escreve, pudica que só, aquela que até outro dia usava “namorar” como sinônimo de “ter uma relação sexual”, esteve pela primeira vez em um evento do mercado de sex shop, voltado para o público feminino, falando sobre sensualidade. 

Diante de tantos tipos de gel – porque, gente, existe gel pra tudo quanto é sensação nessa vida quando se trata de sexo -, vibradores e outros apetrechos que prometem um mundo novo fora daquele padrão de dois corpos e uma cama, me chamou muito a atenção o quanto a palestrante falou várias vezes sobre como não deveríamos fazer nada sem vontade, ou por obrigação. Afinal, tem que ser bom pros dois. É claro que o colar de pérolas massageador também me impressionou, mas isso fica para outro texto 18+,

Quantas vezes ouvimos uma amiga dizer que transou porque “estava devendo” pro conje, porque está tentando engravidar, por isso ou aquilo, mas, principalmente, por obrigação? E, cavucando lá nos confins da nossa memória de relação duradoura, quantas vezes nós mesmas não cedemos àquelas insinuações noturnas e mãos sorrateiras por baixo dos lençóis com o sentimento de dever? Não sei se os homens conseguem fazer sexo sem vontade, mas para as mulheres, esse, infelizmente, é muitas vezes um comportamento padrão.

Acho que a ideia nos é comum porque sempre estivemos condicionadas à ideia de não deixar o outro – literalmente – na mão, ou porque a sociedade diz que o homem busca na rua o que não encontra em casa. Porque o homem tem um click instantâneo para o sexo, e para a mulher é muito mais difícil ter esse desejo. Mas, não. Vamos acabar com esse contador de sexo protocolar aqui. Porque não deveria ser assim. 

Ninguém deveria ter que se entregar num ato tão íntimo só para cumprir tabela. Ou se depilar, comprar uma lingerie cara, tomar cachaça coragem e fazer aquele strip-tease só pra agradar ao outro. No sexo, a regra deveria ser “vale tudo”, só não vale não fazer o que não tiver vontade. Não pode ser bom se só um se satisfaz, se alguém está entregando seu corpo como um objeto para o prazer alheio. Não pode ser bom se alguém tem que fingir um orgasmo.

O corpo fala. Se ele diz que não quer, não se force. A coisa mais gostosa do mundo a se fazer a pelo menos dois não pode ser boa apenas para um.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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