Minha cabeça dói. Os sons que vêm da rua não me deixam descansar. O ruído repetido do gerador que habita o estacionamento do supermercado aqui em frente me causa irritação. Crianças gritando. Cachorros latindo. As mesmas propagandas da Trivago a cada cinco minutos na TV.
Cortei o dedo com o estilete, e agora encosto em tudo justamente com ele, o maldito indicador. Tirei as cutículas fundo demais, vou me esquecer disso na hora que enfiar a mão no pote de sal. Tosse alérgica e ar-condicionado viraram meu drama pessoal. Memória falha, pouco dinheiro, e até a tatuadora desmarcou o horário que eu tinha essa semana.
A inversão no pole não sai, as letras do livro são muito miúdas, o sapato novo esfolou meus pés. Aquela dose de autoestima que estava aqui vazou em gotas, junto com as lágrimas que eu derramei na última DR. Por que nenhuma das minhas calças vem com a barra no tamanho exato?
Horas demais no Instagram, eu sei. Roupas demais no armário também. Ansiedade com as notificações do WhatsApp. Brotou uma espinha gigante e dolorida no meu queixo. As falas do presidente me dão ânsia de vômito. Vontade de brigar com quem votou nele. Meu ciclo desandou de novo, os hormônios vão me tirar o sono mais uma vez. Cansada de ser mulher. Cansada dos homens. Cansada dos abusos psicológicos. E de viver.
2020 mal começou, eu só quero que tudo se acabe.