Canto dos contos

Branca de Neve e os Sete Anões Capitais

Escrito por Guilherme Alves

Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou. Parara-tim-bum, parara-tim-bum. Eu vou, eu vou.

Era uma vez, uma madrasta muito malvada, que não se conformava pelo título de Mulher Mais Bela do Mundo Inteiro Edição 2020 pertencer à sua enteada Branca de Neve. Revoltada, a cruel madrasta contratou um caçador sanguinário para matar Branca de Neve e desovar o presunto em local ermo e não sabido. O caçador sanguinário, porém, comovido com a beleza de Branca de Neve, compadeceu-se de sua alma e decidiu poupar sua vida, entregando o coração de um viado (sic) para que a madrasta imaginasse que a tarefa havia sido cumprida e ele pudesse receber os cem mil dólares previamente acordados.

Branca de Neve, porém, estando oficialmente morta, não poderia mais ter crédito na praça, e sua única alternativa seria fugir para o meio do mato e viver como hippie. Em suas andanças, a bela moçoila encontrou uma pequena casa, cuja porta mal dava para que ela entrasse, e que parecia totalmente deserta e desprovida de residentes permanentes. Curiosa sobre quem poderia habitar tão diminuta moradia, a belíssima dama invadiu a propriedade, almejando tomá-la em usucapião, já que o IPTU deveria ser bem baratinho. Os pequeninos cômodos, porém, não satisfaziam às suas necessidades, já que tudo dentro da casa era planejado para habitantes de tamanho P.

Mal sabia Branca de Neve, todavia, que a casa tinha dono. Ou melhor, donos. Tratava-se da residência de verão dos Sete Anões Capitais: Preguiçoso, Guloso, Furioso, Vaidoso, Orgulhoso, Invejoso e Libidinoso. No momento, os nanicos heróis estavam em sua mina de diamantes, prontos para enviar mais uma remessa para a Suíça, disfarçada de tonéis de cachaça tipo “A” exportação, para pagar menos impostos e tarifas bancárias.

Qual não foi a surpresa dos pequeninos humanoides quando retornaram à sua casa e viram aquela mulher enorme comendo de sua comida, bebendo de sua água e dormindo em suas sete camas ao mesmo tempo. Furioso sugeriu esquartejar a bela dama. Guloso aprovou a ideia, desde que eles pudessem transformá-la em bifes. Invejoso ficou revoltado por não ter tido esta ideia antes. Orgulhoso se recusou a chamar qualquer ajuda, dizendo que poderia resolver a situação sozinho. Vaidoso estava muito ocupado fazendo escova progressiva em sua barba para tomar qualquer decisão. Preguiçoso não se manifestou, e a ideia de Libidinoso não pode ser revelada neste horário.

Enquanto os sete confabulavam sobre o melhor curso de ação, Branca de Neve acordou e, levantando-se assustada, sem se lembrar de onde estava, deu com a cabeça no teto, caindo desmaiada em seguida. Somente o beijo de um belo Príncipe poderia despertá-la de seu sono eterno.

Por um golpe de sorte, um belo Príncipe estava passando por ali bem no momento, a caminho de mais uma caça à raposa, antes que esta fosse proibida pela Câmara dos Lordes. Os Anões correram, agarraram o Príncipe, e prometeram alguns diamantes de sua coleção particular caso ele beijasse Branca de Neve e a levasse dali para sempre, para que eles pudessem continuar vivendo suas vidas normalmente, antes que alguém descobrisse o cassino clandestino que havia sob a casa. Ao ver a estonteante beleza da inconsciente jovem, o Príncipe declarou que a beijaria até de graça, mas, ao ver a estonteante beleza dos diamantes selecionados como recompensa, mudou de ideia mais uma vez, o que deu origem a uma imensa discussão sobre qual palavra deveria ser cumprida: a dos Anões que prometeram pagamento, ou a do Príncipe que havia declarado sua intenção em beijar gratuitamente.

Quatro horas depois, a discussão foi finalmente encerrada quando o Príncipe ameaçou chamar seus pretórios para prender os Anões como Inimigos da Coroa. O Príncipe beijou Branca de Neve, que acordou e viu naquela situação uma ótima oportunidade de voltar para a cidade sem precisar se preocupar com seu Atestado de Óbito, a raiva de sua madrasta ou o Imposto de Renda pelo resto de sua vida. Imediatamente, ela providenciou um bebê para segurar o Príncipe e garantir seu Golpe do Baú.

Assim, Branca de Neve se tornou Princesa, os Anões continuaram com suas atividades ilegais, a madrasta teve de se conformar com o vice, e o caçador sanguinário perdeu sua licença na Guilda de Caçadores Sanguinários do Reino, por não ter cumprido um contrato e ainda ter tentado engambelar seu empregador.

E todos viveram felizes para sempre.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

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