Gerando Gentileza

O boca a boca e mais uns clichês do bem

Escrito por Rose Carreiro

O boca a boca é um modo de propaganda deveras efetivo para os reles mortais dos pequenos negócios e artistas locais, personagens dessa crônica.

A propaganda é a alma do negócio. Pronto, comecei com um clichê pra quebrar a seriedade, mas não vou enveredar no significado da metáfora – muito por falta de competência, e mais ainda por falta de conhecimento acadêmico. Porém, dentro de minha leiguice, afirmo empiricamente que o boca a boca – outro clichê – é um modo de propaganda deveras efetivo para os reles mortais dos pequenos negócios e artistas locais, personagens dessa crônica.

Falo dos que cuidam da própria panfletagem digital nas redes sociais; que fazem seu próprio marketing; que atendem o cliente, produzem o trabalho, performam o show, fecham a conta, limpam a sala, passam café e são responsáveis por todos os outros corres necessários. Nossos parentes, amigos, gente da nossa comunidade, que está  por aí se desdobrando, investindo tempo e amor em ideias. É quem está tentando levar sua vida com dignidade, tentando viver do que gosta, ou do que sabe fazer para manter um banho e uma refeição quentes no fim do dia. 

Talvez você esteja lendo e se identificando como uma dessas pessoas. Mantendo o clichê na conversa, eu poderia dizer: support your locals, num ativismo mais contemporâneo, mas vou dar um tom vintage e falar de boca a boca mesmo. E o meu é pra incentivar o de vocês – um boca a boca pra todos nós:

Seja o garoto propaganda (clichê?) dos pequenos empresários, artistas e sonhadores que você conhece. De brigadeiro a tradução do Italiano, alguém do seu convívio está nesse momento divulgando nas redes sociais ou indo de porta em porta oferecer seus produtos e serviços. Todo mundo tem uma amiga que está revendendo roupas, uma tia que faz salgadinhos por encomenda. A advogada autônoma, ou a psicóloga que acabou de abrir seu espaço. Escritores, professores particulares, mecânicos, crocheteiras. É tão simples e nos toma tão pouco tempo falar deles para outras pessoas, basta um compartilhamento em rede social, ou uma indicação numa conversa. 

Mais do que um garoto propaganda, seja um consumidor. Compre de quem você conhece. A gente paga caro pra ostentar marcas cujos donos nem sabem da nossa existência, por que não podemos investir no que foi feito artesanalmente por um amigo? Contrate os serviços de quem é do seu convívio. O sentido de comunidade está em se ajudar.

Prestigie a arte dos seus amigos. Aquela sua comparsa cronista lançou um livro? Não peça um exemplar, compre-o. Pague os ingressos para ver sua amiga se apresentar num show de dança. Se seu bolso permitir, leve um acompanhante. Ouça e divulgue as músicas da banda que você viu tocar lindamente no barzinho outra noite. Quanto mais gente tiver acesso à arte de alguém, maiores serão as chances de esse alguém conseguir um dia viver disso – ou, pelo menos, serve de incentivo.  E seja o fã número um (em quantos clichês esse texto vai terminar?) desses artistas.

Elogie o trabalho bem feito dessa gente. Se achar que há algo que não está tão bom, faça com que saibam, dê seu feedback. Dê ideias, sugestões, e compartilhe o seu conhecimento com essas pessoas. Avalie. Comente em suas publicações. Não vai lhe custar mais do que dois minutos, e pode render um negócio.

Vivemos rodeados por marcas com patrimônio que nossas humildes poupança jamais poderiam sonhar em render. Idolatramos celebridades que alimentariam um país com seus cachês e royalties. E, muitas vezes, nos esquecemos de que nosso mundo é muito mais cheio de pequenas empresas que apenas sobrevivem, artistas que criam e se expressam no tempo que deveria ser de descanso, profissionais que se reinventam pra fechar o mês fora do vermelho. 

Não é sobre tornar ninguém rico ou famoso. É sobre apoiar ideias, criar pequenas oportunidades e, quem sabe – já que eu acredito em mais esse clichê – realizar sonhos. Não espere recompensa, mas termine essa leitura com uma certeza: a de que a nossa humanidade cresce quando conseguimos tocar a vida de quem faz parte da nossa existência. 

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.