Canto dos contos

O Chamado – Parte 2

Escrito por Guilherme Alves

Nossa história lovecraftiana em quatro partes continua, com novas descobertas e terríveis revelações

ATENÇÃO! Como o título atesta, essa é a Parte 2. Se você ainda não leu a Parte 1, o que está esperando? Basta clicar aqui. Depois você pode voltar.

O livro era realmente muito interessante. Falava de várias criaturas que já habitaram a Terra, sem o conhecimento dos humanos. Quanto mais eu lia, mais sentia vontade de ler mais um capítulo, mais algumas páginas. Embora a racionalidade me dissesse que aquilo tudo era ficcional, algo no íntimo de meu ser alertava que poderia ser tudo verdade, e que uma daquelas criaturas era a responsável pela estranha pegada que eu encontrara.

Um dia, comecei a ter um sonho recorrente. Da janela de meu apartamento, podia ver um morro. Em meu sonho, tal morro pulsava e brilhava, como se estivesse vivo e quisesse andar. Este sonho me perturbava. Sempre que acordava, ia para a janela, ver se o morro “ainda estava lá”.

Minha produtividade no trabalho caiu. Não conseguia me concentrar, pensando na estranha pegada, no livro, e no morro pulsante do sonho. Por alguma razão, não associava as três coisas. Minha namorada terminou tudo, alegava que eu não dava mais importância a ela. Se ela não entendia a magnitude de minha descoberta, era melhor mesmo que se afastasse. Ou pelo menos assim comecei a pensar.

Um dia, o sonho mudou. O morro pulsou e brilhou mais do que nunca, até que se partiu. Uma estranha criatura, com a cabeça feito um polvo, munida de vários tentáculos e com asas de morcego, saiu do morro partido, como se este fora um ovo. Tão colossal era o monstro que arrancava prédios do chão para saciar sua fome. Eu olhava pela janela, imóvel, vendo a criatura se aproximar de meu prédio para degluti-lo e por cabo de minha vida.

Aquele fora o sonho mais real que já tivera. Acordei banhado de suor. Mal conseguia olhar pela janela, com medo do morro pulsante.

Após vários dias atormentado pela imagem da Criatura, decidi que era hora de encontrar meu destino. Precisava retornar ao local onde encontrara a pegada. Infelizmente, chovia muito, e não foi fácil chegar ao exato ponto onde tudo aquilo começou. Quando finalmente encontrei o local, a pegada não estava mais lá, talvez desfeita pela própria chuva. Desolado, voltei para casa.

Já não dormia mais, com receio de encontrar a Criatura em meus sonhos. A cortina da janela que dava para o morro pulsante agora estava permanentemente fechada, o que dava um ar lúgubre ao meu quarto. Já não me importava mais com arrumação, toda a minha casa estava uma bagunça, livros espalhados, o molde de gesso sobre a mesa. Só comia porque sentia fome, pois nada mais importava. Eu precisava encontrar o responsável pela pegada que arruinara minha vida.

Após alguns dias, o tempo firmou. Com o Sol brilhando no céu, retornei à floresta, ao ponto da pegada. Havia alguns galhos partidos, o que denunciava que alguém tinha passado por ali, mas nem sinal de pegadas monstruosas. Decidi me embrenhar ainda mais no mato atrás de pistas. Após meia hora de caminhada, me vi de volta à estrada. Estranho. Decidi me embrenhar na mata mais uma vez.

Mais uma hora de caminhada e estava de volta ao mesmo lugar. Realmente eu devia estar muito distraído, para fazer voltas e desvios que me levassem sempre ao ponto de partida. Decidi então andar diretamente para a frente, sem virar para a direita ou para a esquerda. E me perdi.

Me embrenhei tão profundamente na floresta que já não sabia onde estava. Não conseguia mais ver a estrada, nem ouvir o som dos carros. A razão começou a voltar, e fiquei temeroso de encontrar cobras… ou a criatura da pegada. Mesmo sem perceber, a proximidade da estrada me dava uma segurança, que agora havia partido.

Mas não devia ser tão difícil voltar: se andara em linha reta até ali, bastava voltar em linha reta até meu eventual ponto de partida. Mas isso não foi tão fácil quanto meu pensamento me dizia que seria. Comecei a passar por locais que não reconhecia. O mato foi ficando cada vez mais fechado. Até que, ao abrir algumas plantas para passar, me deparei com aquilo. O horror.

Uma estátua de pedra, de mais ou menos um metro e oitenta de altura.

Da Criatura que assombrava meus sonhos.


Este texto continua na semana que vem.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

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